quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Sermão do Bom Ladrão (III)

"... o verbo rapio [roubar] na Índia se conjugava por todos os modos. A frase parece jocosa em negócio tão sério; mas falou o servo de Deus como fala Deus, que em uma palavra diz tudo. (...) O que eu posso acrescentar, pela experiência que tenho, é que não só do cabo da Boa Esperança para lá, mas também das partes daquém se usa igualmente a mesma conjugação. Conjugam por todos os meios o verbo rapio; porque furtam por todos os modos da arte, não falando em outros novos e esquesitos, que não conheceu Donato nem Despautério. Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos, é que lhe apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o mero e misto império, todo ele aplicam despoticamente às execuções na rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quando lhes mandam; e para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e garantindo as cousas desejadas aos donos delas, por cortesia sem vontade as fazem suas. Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam muito; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem, quando menos, meeiros na ganância. Furtam pelo modo potencial, porque, sem pretexto nem cerimónia, usam de potência. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que vão continuando os furtos. Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas; porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados e as terceiras, quantas para isso têm indústria e consciência. Furtam juntamente por todos os tempos, porque do presente (que é o seu tempo) colhem quanto dá de si o triénio; e para incluírem no presente o pretérito e futuro, do pretérito desenterram crimes de que vendem os perdões, e dívidas esquecidas de que se pagam inteiramente; e do futuro empenham as rendas e antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos. Finalmente, nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plusquam perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse. Em suma que o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz activa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas".
Pe. António Vieira, in Sermão do Bom Ladrão

5 comentários:

Anónimo disse...

Aqui vai um sermão.
O PS-M já percebeu que assim (OE 2008) não vai lá.
Se tiver propostas sérias e linguagem elevada, afastando-se dos ex-PSDs independentes e da garotada, talvez consiga 14 deputados em 2011.

amsf disse...

É preciso ter serenidade, o importante é no final deste processo conseguir que o Governo da República se comprometa com PS/M a fazer na Madeira os investimentos que são da responsabilidade do Estado e que o PSD/M não tem conseguido que sejam feitos.

Sem esta tensão...sem este chamar de atenção sobre o suposto "fracasso" do PS/M a "vitória" não terá impacto na comunicação social e opinião pública madeirense.

No entanto se não houver resultados no fim da negociação é importante que se passe a mensagem aos 3 deputados que não têm a inteira confiança da parte do PS/M. O "jogo" ainda não acabou e aqueles que adoram o futebol sabem o quanto vale uma vitória no fim de um "jogo" sofrido.

Imaginem que hoje mesmo os ministos da Administração Interna e da Justiça se comprometiam em executar e recuperar alguns equipaamentos que são da sua competência! Trinta segundos na RTP/M, umas linhas no DN e era uma vitória sem qualquer impacto na opinião pública e sem prolongamento no tempo.
Concluindo: é importante que o fracasso do PS/M seja propagado aos quatro ventos para que a "vitória" seja recebida com a mesma atenção. No entanto é imprescendível uma vitória. Recuamos dois passos com a intenção de avançar outros cinco!

MMV disse...

Este Sermão é dedicado aos ladrões do PS? Que gamam os madeirenses?!

Anónimo disse...

ladrões e o p.s.

Felgueiras
Fátima Felgueiras defende-se com dinheiro da autarquia (SIC)
A Câmara Municipal de Felgueiras é que está a pagar a defesa de Fátima Felgueira. Até ao momento, os advogados já receberam 200 mil euros por serviços prestados.

Anónimo disse...

Sim, provavelmente por isso e