quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Manifestação separatista

Os comentadores têm sido pródigos na afirmação de que o presidente da Câmara Municipal de São Vicente só quis agradar ao chefe e chegou até a ser "mais papista que o papa". Essa leitura do facto de não se ter tocado o Hino Nacional na cerimónia do Dia do Concelho significa que esses comentadores reconhecem que Alberto João Jardim (o tal chefe, o tal papa) fica satisfeito com manifestações separatistas, que outra coisa não é a ausência do símbolo português. Finalmente começa-se a perceber a índole deste regime, ou apenas se deixou de brincar ao faz de conta?

sábado, 18 de agosto de 2007

Formação desportiva nas escolas

A relação do Estado com o Desporto merece uma reflexão muito séria, onde deve opinar a generalidade dos cidadãos e não apenas os habilitados para exercerem profissão nessa área.
Já passei pela experiência de dirigente desportivo e ainda me encontro ligado ao treino, no Futsal e no Futebol, onde, desde há cinco anos venho colaborando com o CD Nacional, primeiro nas Escolinhas e depois nos Infantis. Sendo professor do Ensino Secundário, tenho soltado a voz várias vezes para comunicar aos meus colegas que o melhor da Educação está no Desporto. E referia-me à formação dos jovens efectuada nos clubes desportivos.
Nos clubes, os jovens têm aprendido, e aceitam isso com normalidade, a cumprir regras, a respeitar dirigentes, treinadores e colegas, a trabalhar em conjunto para atingir objectivos comuns, além de outros valores apreendidos com alegria. Resta saber se as mudanças prometidas visam em primeiro lugar as crianças e os jovens, ou se outros interesses não se levantarão...
Por algumas afirmações que já vieram a público, parece-me que a formação integral dos jovens não é a primeira preocupação dos políticos legisladores.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

A Televisão que temos

Ninguém ainda esqueceu como o director da RTP Madeira tratou a informação no período pré-eleitoral e, especialmente, na noite do dia das eleições. Juro que já não sei se sonho ou foi imaginação minha ver o dito senhor curvadamente abraçado ao vencedor, com o final das costas aparecendo publica e indecorosamente. O modo como foi tratada a informação no Telejornal de ontem à noite vem no seguimento da mesma curva, como não podia deixar de ser: o grande tema do dia foi, sem dúvida, a conferência de imprensa onde os vereadores socialistas afirmaram a intenção de avançar com uma acção de perda de mandato de Miguel Alburque, presidente da CMF. Como é possível que alguém aceite como normal um Telejornal de uma estação pública colocar o assunto do dia após as notícias desportivas, e avançando primeiro com o contraditório efectuado pelo visado nessa conferência de imprensa?
Se o director da RTP passou além do estado de vergonha. como se sentirão os restantes jornalistas da RTP-M? Ah, e depois há outros jornalistas da freguesia que querem passar a ideia de que o que está a acontecer resulta apenas da luta de galos pelo poleiro do PSD, isto é, usam Omo, porque branco mais branco não há.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Grande admiração!

Presidente do Governo Regional não quer receber líder da oposição da Madeira. Grande admiração! Queriam um rasgo democrático do líder do PSD-Madeira plantado na Quinta Vigia como um carvalho velho?

Discurso separatista II

Alberto João Jardim afirmou hoje: "Estou-me nas tintas para os regulamentos da República Portuguesa".
Um membro do Conselho de Estado "nas tintas" para os regulamentos da República Portuguesa...
De que República Alberto João Jardim respeita os regulamentos? Sim, de que República? Diga, de uma vez por todas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Discurso separatista

Alberto João Jardim afirmou que “tem de haver uma solução política para aquilo que o Estado colonialista está a fazer à Madeira no domínio dos transportes”.

Um membro do Conselho de Estado nunca poderia acusar o Estado que representa de colonialismo, sem consequências.

Quem fala em Estado colonialista está a utilizar um discurso marcadamente anti-colonialista, logo separatista.


sábado, 11 de agosto de 2007

Miguel Torga

Leiria, 10 de Novembro de 1939:

Mais duas horas de prosa.
Uma coisa seca, retalhada, sem nenhuma grandeza. Apesar de ter a consciência disso, suei honradamente aquelas quatro páginas. E, afinal, é o que é preciso. Puxar, puxar, até o corpo não poder mais e cair de vez. Dar à vida, numa palavra, o que a vida pede: cada momento cheio de qualquer esforço.
Quando eu era pequeno, havia lá em casa, no cimo de um lameiro, uma costeira que era só fraga; e meu Pai, na vessada granjeava também aquele bocado, que nunca deu sequer feijão-chícharo. Só com dez anos, sem conhecer ainda o pavor dos retalhos de tempo, perguntava-lhe eu, já cansado:
-Mas porque é que se cava também isto?
E ele, como quem sabia uma verdade eterna:
- Para se acabar o dia.
Miguel Torga, Diário

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Ficha 5


5

Quando os responsáveis pelo fascismo passaram alguns dias na ilha, em trânsito para o Brasil, Rui percebeu o valor simbólico daquela paragem: a revolução demoraria muito mais a chegar ao Atlântico.
Ao tempo, o regime da propriedade rural era pouco menos que feudal. Quem trabalhava a terra (e carregava o nome de colono) tinha que entregar dois terços do produto desta ao senhorio, o dono, e ainda lhe vergava a cerviz no momento em que este vinha, com os meninos e meninas da sua prole a colherem as melhores uvas, antes das vindimas. O colono alindava um cestinho onde depositava o melhor fruto da sua escravidão. Os defensores deste regime, os seus arautos e guardiães rapidamente desenterraram ideais de autonomia que eles próprios tinham ajudado a espezinhar. Agora que ventos de liberdade e de justiça se anunciavam (anunciara-se, de facto), convinha que esta terrinha pudesse ter governo distinto. Mas então o que era isso de liberdade, o que era isso de socialismo, e extremo escândalo, de comunistas em lugares de poder? Noutros lados, vá que não vá, aqui nunca. Pata rapada, como esses colonos ignorantes que nasceram para cavar e carregar os senhores na rede, não deveria ter os mesmos direitos. O povo a reivindicar significaria o absurdo do poder caído na rua…

Luísa leu de seguida, interrompendo apenas para beber o café que o irmão preparara.
- Não percebo, manténs os nomes das pessoas…
- Pois é, já te disse que a única intenção desses textos é lutarem contra o esquecimento.
- Mas se não ficcionas, qual o motivo de apresentares os dados dessa maneira? Poderias escrever simplesmente um diário…
- É um diário à minha maneira, para guardar numa mala, para os meus netinhos perceberem um dia como começou esta treta da autonomia.
Luísa sorriu, abanando a cabeça, para mostrar ao irmão a sua discordância.
- E a ficha 5 que andas a escrever, é para falar de quê?
- Da invenção da ideia separatista.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Ficha 4

4

Ricardo Mendes, chefe de secretaria da Assembleia, tinha vindo de África, na leva dos retornados. Sabia-a toda, naturalmente. Inscreveu-se no Partido, como é óbvio e não tardou em ser o presidente de uma junta de freguesia do Funchal.
Ia à empresa de vez em quando, para receber um envelope, e aproveitava para conviver com o senhor Silvestre, farinha do mesmo saco.
Nessa final de tarde, o chefe de escritório, o senhor Castro, também teve direito ao convívio: charutos cubanos, whisky de doze anos, anedotas, e o elogio do triunfo dos chicos espertos.
Rui ficara do outro lado da festa. Casualmente deixara-se ficar no escritório, a colocar em ordem algumas facturas. Mesmo que o tivessem convidado, nunca estaria do outro lado, não tinha pachorra para aturar gente daquela, metia-lhe asco. Já tinha ouvido todas as anedotas sem graça do Silvestre, armado em novo-rico, sem jeito nenhum para isso, com o desplante de ironizar com o aumento do desemprego feminino, a dizer que o grande negócio do futuro seriam os bordéis. Vómitos para indivíduos destes…
O senhor Castro saiu da reunião de olhinhos vermelhos, trocando o passo e bem aquecido. O patrão despediu-se com o Ricardo Mendes pelo braço, que dupla…
- Rui, Rui, esta gente ainda goza com desfaçatez. A ideia deles é que vivem em terra de cegos, e em terra de cegos quem tem um olho é rei.
- Falaram à-vontade à sua frente, senhor Castro?
- Pois claro. O Ricardo Mendes imagina que todos os que possuem um cargo de chefia hão-de ser do Partido ou da conveniência. E posso contar-te mais: chegou ao desplante de afirmar:
- Só os tontos não aproveitam o poder que possuem. Na minha freguesia, hei-de ganhar as eleições sempre que quiser. Se o povo quer uma escola, constrói-se a escola; se quiser uma estrada, porque não fazer a estrada? Tonto seria eu se não a fizesse. Se a estrada custar cinquenta mil, cinco mil são para mim, o povo fica contente e ganho as eleições!

Novo Robin Wood

Eis como surge o Robin Madeira, a dar sopa aos pobrezinhos.

Sem a coragem e o sentido de honra do famoso herói, sem gentil porte que o enobreça, o Robin Madeira nunca tirou aos ricos para dar aos pobres. Instalou-se no palácio onde se banqueteia com os da sua igualha e com aqueles que se curvam para beijar-lhe os anafados sapatos. No seu longo reinado de trinta anos, Robin Madeira fez crescer o número de pobres, para que não se perdesse a tradição familiar de lhes oferecer uma sopinha diária, como benfeitor supremo.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ficha 3


3

Rui pegou no recibo e dirigiu-se ao edifício da Assembleia para receber o pagamento. Já tinha percebido quase tudo. O senhor Sousa, antes de sair, abriu-se e contou como elas se faziam. O método era profusamente utilizado em África e consistia em oferecer dez por cento do valor de cada máquina ao responsável pela compra. E se esta empresa não fizesse, faria outra.
- Mas se os responsáveis não escolhem pela qualidade e preço, como se justificam?
- Quando lhes pedem explicações, coisa rara, por acaso, encontram sempre uma fórmula: uma qualquer característica da marca ou modelo adapta-se mais eficazmente ao pretendido…
- E nos restantes materiais, nos consumíveis, por exemplo?
- Só em casos especiais se oferece um prémio qualquer.
O senhor Sousa saiu para uma empresa maior, mas deixou toda a sua sabedoria ao senhor Castro. Este, porém, explicava logo tudo ao Rui. Percebia-se que não estava de acordo com todas as estratégias.
Olhou o recibo: quatrocentos e tal contos. Era uma enormidade de papel e tinta que aquela assembleia consumia, caramba.
A espera valeu a pena, pois o cheque já estava passado, aliás Rui nunca se aborrecia nas repartições: quanto mais tempo ali, menos a entortar a coluna numa cadeira, a mexer em papéis. Comprava um jornal desportivo e passava o tempo entretido numa fila qualquer.
- Eis o cheque, senhor Castro, bela verba. Aquela gente gasta material que se farta…
O senhor Castro sorriu, abriu a porta que dava para o espaço contíguo, onde geralmente se encontrava o patrão e, vendo o espaço vazio, esclareceu:
- Aquele dinheiro é limpinho, é fifty-fifty; metade para o Ricardo Mendes, metade para o Sivestre.
- E o material?
- Qual material, ó homem? Não saiu uma resma de papel do armazém.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Ficha 2

2

O Gerardo viera do Continente, directamente da grande empresa. Era um bom técnico de máquinas e tornou-se absolutamente necessário, porque o senhor Silvestre se dedicara quase em absoluto às vendas e aos negócios, sem mãos a medir já para as máquinas que ia vendendo em tudo o que era instalação do novo governo.
A autonomia implantara-se, com assembleia parlamentar e tudo, coisa fina, de política séria, e uma colecção de deputados a viverem a experiência de se sentarem à esquerda ou à direita como viam nos filmes ou leram em cursos acelerados de política.
- Gerardo, o duplicador do Partido está a jogar tinta por quanto é lado. O presidente está furioso. Deixe tudo o que está a fazer e corra lá.
- Mas qual é o modelo? Tenho de preparar as peças.
- Vamos, rápido, pergunta aí ao Rui.
O Rui pegou no ficheiro. N, O, P… procurou Partido e nada, mexeu com os dedos na parte superior das fichas de cartão, antes e depois do P… e nada.
- Então, Rui, olha que o Silvestre se chateia se não arranco já.
- Espera mais um pouco, que não encontro a ficha desse cliente. No P, não há nada.
- Isso, procura melhor, eu entretanto vou à rua fumar e já volto.
Rui procurou sobre a secretária, vasculhando os papéis à direita e à esquerda, documentos que ficavam à espera de serem tratados ou do arquivamento. Estava quase a entrar em desespero e decidiu procurar letra a letra, ficha a ficha, aquela poderia estar fora da mãe. Nova desilusão. Aborrecia-o ter que perguntar ao senhor Silvestre se ainda se recordava do modelo que tinha vendido para o Partido, até porque ele haveria de perguntar pela ficha que tinha voado dali para fora. Que chatice…
O senhor Sousa, o chefe de escritório, deu-se conta de desespero:
- Que se passa, Rui? Parece uma mosca aí à volta do prato, que procura?
- A ficha do Partido. Vendemos um duplicador para lá e não aparece a ficha.
- Vai aparecer, o Gerardo que vá lá, tenha paciência e leve as peças de três ou quatro modelos. Se for necessário voltar lá, que volte.
Palavra de chefe era descanso. Com ele, nunca o patrão levantava a voz; tinham os seus segredos.
Quando o Gerardo regressou, dirigiu-se de imediato ao colega:
- Não procures mais, Rui, vai à ficha da Assembleia.
- Explica-me.
- É esse o duplicador.
Rui continuava a não perceber:
- Mas foste à Assembleia?
- Não; ao Partido.

domingo, 5 de agosto de 2007

Ficha 1

1

- Posso então ver os fotocopiadores?
O presidente da câmara de uma freguesia do Norte da Ilha, ele próprio se encarregava da compra do equipamento.
- Talvez não tenha confiança nos funcionários – alvitrou Rui, o empregado de escritório mais jovem da empresa, aliás só havia dois: o senhor Sousa, e o Rui. Aquele viera de Moçambique, na leva dos retornados. Era o braço direito, e o esquerdo também, do senhor Silvestre, que era o patrão. Este não passava de um técnico-vendedor, ou vice-versa, não interessa ao caso, a quem uma grande empresa, analisando as condições de um mercado regional que prometia, com a abertura de escolas e instalação de órgão de governo da ilha, ofereceu dez por cento de quota para a instalação de uma empresa neste cantinho. O senhor Silvestre encarregava-se das vendas, saindo logo pela manhã com a pasta negra inchada de catálogos de fotocopiadores, máquinas de offset e duplicadores. Havia para todos os gostos e preços. Fotocopiadores baratinhos a líquido e outros, o dobro do preço a toner, duplicadores pequenos próprios para copiar comunicados de paróquias, partidos ou movimentos políticos e outros maiores, que uma secretaria governativa não desdenharia.
O homem conhecia já as novas tecnologias, sim senhor. Questionava as possibilidades, cofiava o bigode, sorria, perguntava preços. Tornava-se evidente que o senhor Silvestre já tinha andado no Norte a distribuir catálogos e a falar da vantagem da compra naquela empresa.
- Talvez este mais pequeno e barato sirva para os vossos serviços – apostou o senhor Silvestre, levantando a tampa da máquina e mostrando o vidro, enquanto volteava a resma de papel, para que as folhas se soltassem, evitando, assim, a humilhação do fracasso. O diabo era mesmo quando as folhas prendiam no interior da máquina, no momento da venda. – É uma câmara pequena (não é?), depois se o serviço aumentar, o senhor presidente compra outra. Vem cá e nós retomamos essa. Está tudo preparado.
O presidente cofiou o bigode, sorriu e perguntou:
- Qual é o mais caro?
O senhor Silvestre sorriu gloriosamente e apontou-lhe o último modelo a toner – uma máquina japonesa grande, brilhante, sedutora.
- Vai esse mesmo – e piscou os olhos ambiciosos.
- Tratem da guia de remessa. - ordenou o patrão, enquanto saía da loja com o presidente, para discutirem negócios.
Rui olhou para o senhor Sousa, estupefacto:
- Nem perguntou se era a melhor, as características…
- Para quê? – sorriu trocista e manhoso o homem experiente – Trata é da guia de remessa. E não te esqueças de guardar a cópia do valor de intermediário na pasta. São dez por cento.

As fichas do Rui

Rui é uma personagem do meu primeiro romance, ao qual darei, em princípio, o título de Mónica. A acção passa-se na Madeira, nos anos que se seguiram ao 25 de Abril. Numa primeira revisão, decidi retirar algumas passagens, ou pelo menos transformá-las, expurgando alguns momentos de menor literariedade. Custa-me, porém, mandá-las para o caixote do lixo e então prefiro guardá-las nestá espécie de diário em que vou tornando este blog.
Rui não pretendia continuar ligado àquela gente. Fartara-se. Respondeu a um anúncio no Diário de Notícias local e empregou-se numa empresa que comercializava duplicadores e máquinas de fotocópia. No fundo, mantinha-se numa área próxima do trabalho anterior, embora como escriturário. Formou rapidamente uma opinião sobre as maiores motivações autonomistas. Pensou em fotocopiar algumas provas da corrupção a que assistia, mas desistiu da ideia, quando o seu chefe o apanhou em flagrante nessa tarefa. Inventou uma desculpa, mas o senhor Sousa, no dia seguinte, chegou com uma conversa sobre a confiança nas empresas, afirmando que o mundo dos negócios gera muitas ilegalidades, um mal generalizado, mas menor, já que toda a gente fazia por enganar o Estado, tonto seria quem o não fizesse. Manter os segredos na empresa seria um dever de lealdade de todos os funcionários. Então passou a escrever, ao final do dia, numa velha máquina, o que chamava o seu ficheiro, umas fichas numeradas, onde registava em tom narrativo as experiências por que passava. Luísa viu-o debruçado sobre a máquina, escrevendo a ficha 5.
- Para que é isso?
- Para não me esquecer. Está descansada, que não denunciarei os teus amigos.
- Meus amigos, quais?
- Os laranjas, ora quem haveria de ser? Esses fulanos que de dia são apoiantes do governo autonómico e à noite colocam bombas e pintam paredes de azul e amarelo, o Cristiano e os outros, esses que ganham as eleições metendo medo ao povo com o papão do comunismo, mas não dizem a verdadeira razão por que querem o poder, nem eles nem os padres que os apoiam, pedindo nas igrejas que votem no partido das setinhas apontando para o céu. Vê como colaboram no Jornal da Madeira. Sabes, desconfio que escrevem nessas folhas de beatas os mesmos que à noite gatafunham o Zarco, esse pasquim ascoroso dos flamistas.
- Rui, estás a tornar-te mais radical que o próprio Mário. Agora és esquerdista?
- Não, não quero saber de partidos, mas começo a enojar-me com toda esta hipocrisia.
Luísa passou-lhe a mão pela cabeça, acalmando-o, pegou nas folhas e leu:
(continua...)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Frases de bolso do discurso totalitário

O Rali Vinho Madeira pertence a todos os madeirenses!

O Carnaval é obra de todos os madeirenses!

As pombinhas no ar são um sinal de que todos os madeirenses desejam a paz no Mundo!

Madeirenses, acendam as luzinhas no Fim do Ano. Transformemos o nosso anfiteatro no grande postal da Madeira!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

FUNCHAL

amo o outono nesta cidade
as pequenas casas de todas as cores
os campos de vinhas e cana de açúcar os pomares entre maio e agosto

dizes:

eis a tua cidade
a de zarco e colombo
as ruas tão inclinadas como o sol dos invernos profundos
os carros de cestos os caminhantes da encumeada.


eis-te no centro de tudo e os navios parados.


amo o outono nesta cidade com todas as viagens sem chegada.
na véspera já amara as verdes montanhas de leste
as chuvas abundantes
machico entre os seios de ana d'arfert.

depois voltei para sul e amei-te quando cantavas.

séculos antes navegadores de portugal deram-te um nome e era funchal.
depois queimaram as árvores e o mais alto incêndio era uma ilha.
escravos errantes pararam o sol e à volta serenamente e com paixão
espalharam o verde e o azul.

nunca cantaram o bailinho.

hoje
solitários e ébrios trabalham a pedra a beleza a FOME e o TURISMO.

tu
envolta nas lendas e no sonho surgiste devagar e devagar
deste-me os mais belos frutos e os mais estranhos
as pitangas os araçás os maracujás e as romãs da primeira primavera.

eras mulher e quis chamar-te joana d'arc no outono de uma
cidade surpreendida.

foi então que vi a morte aproximar-se vinda do horizonte e cobrir o
pôr do sol das tuas tardes

vi morrerem a água a luz a leve sombra da palidez da tua fronte
vi as aves marítimas seguirem para longe em voo raso

e pela última vez
definitivamente só

eu amei o outono nesta cidade.

José Agostinho Baptista, in deste lado onde