segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Desastre nu

O grupo "Contigo Teatro" leva à cena, na Casa das Mudas, na Calheta, a peça de teatro "Desastre Nu", de António Aragão.
Assisti à estreia, na pretérita sexta-feira, e aconselho vivamente este espectáculo.
A forma original como os espectadores se aglomeram à entrada da sala até que toquem as sirenes prenunciadoras da "guerra" está muito bem concebida, ainda que as falas que só se podem ouvir, nesse momento, sejam demasiado longas, a merecerem, talvez, um registo escrito para que os espectadores não percam o sentido.
A obra de António Aragão é excelente: uma crítica profundamente corrosiva à sociedade contemporânea, mas também à própria cultura judaico-cristã. Acima de tudo o ataque aos poderosos e a denúncia da passividade dos oprimidos. Para além da ironia, encontramos o sarcasmo e a gargalhada que nos abate em frente aos espelhos. Estamos perante uma sátira à democracia que nos envolve, arrasadora, desnudante.
A encenação de Maria José Varela merece todos os elogios: pela excelência do cenário e pelo grande trabalho realizado pelos actores, que um ou outro momento de nervosismo não delustra.
Louve-se ainda a coragem de um grupo amador, que soube superar as dificuldades de uma peça realmente difícil de encenar.
"Contigo Teatro" estreia de facto uma peça que nenhuma companhia teatral ousara assumir, talvez pela sua dificuldade, talvez pela sua corrosiva denúncia deste nosso desastre.
Não percam esta oportunidade. Grande pedrada no charco da nossa modorra cultura. Que pedra!

1 comentário:

Anónimo disse...

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