terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ficha 3


3

Rui pegou no recibo e dirigiu-se ao edifício da Assembleia para receber o pagamento. Já tinha percebido quase tudo. O senhor Sousa, antes de sair, abriu-se e contou como elas se faziam. O método era profusamente utilizado em África e consistia em oferecer dez por cento do valor de cada máquina ao responsável pela compra. E se esta empresa não fizesse, faria outra.
- Mas se os responsáveis não escolhem pela qualidade e preço, como se justificam?
- Quando lhes pedem explicações, coisa rara, por acaso, encontram sempre uma fórmula: uma qualquer característica da marca ou modelo adapta-se mais eficazmente ao pretendido…
- E nos restantes materiais, nos consumíveis, por exemplo?
- Só em casos especiais se oferece um prémio qualquer.
O senhor Sousa saiu para uma empresa maior, mas deixou toda a sua sabedoria ao senhor Castro. Este, porém, explicava logo tudo ao Rui. Percebia-se que não estava de acordo com todas as estratégias.
Olhou o recibo: quatrocentos e tal contos. Era uma enormidade de papel e tinta que aquela assembleia consumia, caramba.
A espera valeu a pena, pois o cheque já estava passado, aliás Rui nunca se aborrecia nas repartições: quanto mais tempo ali, menos a entortar a coluna numa cadeira, a mexer em papéis. Comprava um jornal desportivo e passava o tempo entretido numa fila qualquer.
- Eis o cheque, senhor Castro, bela verba. Aquela gente gasta material que se farta…
O senhor Castro sorriu, abriu a porta que dava para o espaço contíguo, onde geralmente se encontrava o patrão e, vendo o espaço vazio, esclareceu:
- Aquele dinheiro é limpinho, é fifty-fifty; metade para o Ricardo Mendes, metade para o Sivestre.
- E o material?
- Qual material, ó homem? Não saiu uma resma de papel do armazém.

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