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- Posso então ver os fotocopiadores?
O presidente da câmara de uma freguesia do Norte da Ilha, ele próprio se encarregava da compra do equipamento.
- Talvez não tenha confiança nos funcionários – alvitrou Rui, o empregado de escritório mais jovem da empresa, aliás só havia dois: o senhor Sousa, e o Rui. Aquele viera de Moçambique, na leva dos retornados. Era o braço direito, e o esquerdo também, do senhor Silvestre, que era o patrão. Este não passava de um técnico-vendedor, ou vice-versa, não interessa ao caso, a quem uma grande empresa, analisando as condições de um mercado regional que prometia, com a abertura de escolas e instalação de órgão de governo da ilha, ofereceu dez por cento de quota para a instalação de uma empresa neste cantinho. O senhor Silvestre encarregava-se das vendas, saindo logo pela manhã com a pasta negra inchada de catálogos de fotocopiadores, máquinas de offset e duplicadores. Havia para todos os gostos e preços. Fotocopiadores baratinhos a líquido e outros, o dobro do preço a toner, duplicadores pequenos próprios para copiar comunicados de paróquias, partidos ou movimentos políticos e outros maiores, que uma secretaria governativa não desdenharia.
O homem conhecia já as novas tecnologias, sim senhor. Questionava as possibilidades, cofiava o bigode, sorria, perguntava preços. Tornava-se evidente que o senhor Silvestre já tinha andado no Norte a distribuir catálogos e a falar da vantagem da compra naquela empresa.
- Talvez este mais pequeno e barato sirva para os vossos serviços – apostou o senhor Silvestre, levantando a tampa da máquina e mostrando o vidro, enquanto volteava a resma de papel, para que as folhas se soltassem, evitando, assim, a humilhação do fracasso. O diabo era mesmo quando as folhas prendiam no interior da máquina, no momento da venda. – É uma câmara pequena (não é?), depois se o serviço aumentar, o senhor presidente compra outra. Vem cá e nós retomamos essa. Está tudo preparado.
O presidente cofiou o bigode, sorriu e perguntou:
- Qual é o mais caro?
O senhor Silvestre sorriu gloriosamente e apontou-lhe o último modelo a toner – uma máquina japonesa grande, brilhante, sedutora.
- Vai esse mesmo – e piscou os olhos ambiciosos.
- Tratem da guia de remessa. - ordenou o patrão, enquanto saía da loja com o presidente, para discutirem negócios.
Rui olhou para o senhor Sousa, estupefacto:
- Nem perguntou se era a melhor, as características…
- Para quê? – sorriu trocista e manhoso o homem experiente – Trata é da guia de remessa. E não te esqueças de guardar a cópia do valor de intermediário na pasta. São dez por cento.
- Posso então ver os fotocopiadores?
O presidente da câmara de uma freguesia do Norte da Ilha, ele próprio se encarregava da compra do equipamento.
- Talvez não tenha confiança nos funcionários – alvitrou Rui, o empregado de escritório mais jovem da empresa, aliás só havia dois: o senhor Sousa, e o Rui. Aquele viera de Moçambique, na leva dos retornados. Era o braço direito, e o esquerdo também, do senhor Silvestre, que era o patrão. Este não passava de um técnico-vendedor, ou vice-versa, não interessa ao caso, a quem uma grande empresa, analisando as condições de um mercado regional que prometia, com a abertura de escolas e instalação de órgão de governo da ilha, ofereceu dez por cento de quota para a instalação de uma empresa neste cantinho. O senhor Silvestre encarregava-se das vendas, saindo logo pela manhã com a pasta negra inchada de catálogos de fotocopiadores, máquinas de offset e duplicadores. Havia para todos os gostos e preços. Fotocopiadores baratinhos a líquido e outros, o dobro do preço a toner, duplicadores pequenos próprios para copiar comunicados de paróquias, partidos ou movimentos políticos e outros maiores, que uma secretaria governativa não desdenharia.
O homem conhecia já as novas tecnologias, sim senhor. Questionava as possibilidades, cofiava o bigode, sorria, perguntava preços. Tornava-se evidente que o senhor Silvestre já tinha andado no Norte a distribuir catálogos e a falar da vantagem da compra naquela empresa.
- Talvez este mais pequeno e barato sirva para os vossos serviços – apostou o senhor Silvestre, levantando a tampa da máquina e mostrando o vidro, enquanto volteava a resma de papel, para que as folhas se soltassem, evitando, assim, a humilhação do fracasso. O diabo era mesmo quando as folhas prendiam no interior da máquina, no momento da venda. – É uma câmara pequena (não é?), depois se o serviço aumentar, o senhor presidente compra outra. Vem cá e nós retomamos essa. Está tudo preparado.
O presidente cofiou o bigode, sorriu e perguntou:
- Qual é o mais caro?
O senhor Silvestre sorriu gloriosamente e apontou-lhe o último modelo a toner – uma máquina japonesa grande, brilhante, sedutora.
- Vai esse mesmo – e piscou os olhos ambiciosos.
- Tratem da guia de remessa. - ordenou o patrão, enquanto saía da loja com o presidente, para discutirem negócios.
Rui olhou para o senhor Sousa, estupefacto:
- Nem perguntou se era a melhor, as características…
- Para quê? – sorriu trocista e manhoso o homem experiente – Trata é da guia de remessa. E não te esqueças de guardar a cópia do valor de intermediário na pasta. São dez por cento.
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