terça-feira, 31 de julho de 2007

Ainda o Congresso do PS-Madeira

Partidos presentes no Congresso do PS e muitos comentadores, para além em jornalistas de carteira, repetem-se uns aos outros que o Congresso nada trouxe de novo, que o discurso do líder não indiciou novidades ou propostas. Se quem lá não esteve só fala do que lhe dizem, quanto aos que estiveram presentes, pretendem desvirtuar a verdade, omitindo as propostas lançadas por João Carlos Gouveia. Eis algumas:

a) Proporemos então a criação e instalação de um Departamento e Investigação e Acção Penal (DIAP), como instrumento que optimize a prestação do Ministério Público, em termos de investigação criminal. A criação dessa organização deve ser seguida pelo reforço do quadro de magistrados e funcionários do Ministério Público, dos equipamentos, das respostas dos órgãos de polícia criminal e sua articulação com o Ministério Público. A reforma da investigação criminal na Madeira é desejada pelos cidadãos, exigida pela justiça social e é essencial ao desenvolvimento económico da Madeira. As nossas propostas implicarão a transparência de todos os actos públicos, procurando a legalidade dos actos administrativos do Governo Regional e das câmaras municipais. Só com esta transparência se conseguirá a igualdade de todos os cidadãos nas suas relações com os órgãos de poder na nossa Região;

b) O PS-Madeira propõe um complemento de insularidade mensal para os funcionários públicos. Se o Governo Regional entendeu propor ao Governo da República um complemento de 30% para os funcionários que integram as diversas forças de segurança, por conta da insularidade – 30% que é equivalente ao subsídio de dupla insularidade que auferem os funcionários públicos no Porto Santo -, o PS - Madeira propõe um complemento de insularidade de 15% para todos os funcionários públicos. Naturalmente esta percentagem será uma referência para as futuras contratualizações nas restantes áreas profissionais. Esta medida irá trazer um novo alento à economia regional, especialmente ao comércio, onde quase diariamente se registam falências, devido à gradual diminuição do poder de compra dos madeirenses. Estas falências vêm provocando um aumento assustador do número de desempregados na nossa Região, que é preciso impedir rapidamente;

c) O PS-Madeira há muito que vem alertando para a necessidade de um diferente conceito de desenvolvimento, assente nas pessoas, na sua formação e qualificação. Por isso, apostamos numa qualificação das pessoas assente nas novas tecnologias;

d) O PS-Madeira apostará fortemente na defesa do património natural. Se alguns cidadãos ainda não se consciencializaram da importância da valorização do património natural, do ponto de vista da qualidade devida, mas também na mais-valia que representa para um turismo de qualidade, assiste-se já ao recrudescimento de movimentos de opinião para a defesa da Natureza, contra os atentados ambientais e contra as construções e modificações que adulteram o nosso património natural. Infelizmente foi preciso que a crise se começasse a manifestar no Turismo para que algumas entidades desta área comecem a ganhar espírito crítico em relação ao que durante muitos anos fomos nomeando de desenvolvimento baseado no betão;

e) O PS-Madeira irá propor a Revisão do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma da Madeira, mas uma revisão minimalista, adequando o texto às mudanças constitucionais entretanto verificadas, como é o caso da substituição da figura de Ministro da República pela de Representante da República, mas sobretudo tendo em conta o ponto referente às incompatibilidades, de modo a impedir a obscena situação de vermos alguns eleitos a decidirem em proveito dos seus próprios interesses, que sobrepõem ao interesse público, desonrando, deste modo, a sua função política;

f) O PS-Madeira lutará pela libertação dos funcionários públicos, para que deixem de ser funcionários do Governo, assumindo a grandeza pública da sua função não partidária:

g) O PS-Madeira bater-se-á, nos diferentes concelhos, pelo respeito pelos PDM, ainda que estes devam ser revistos e actualizados. Indicia crime ou favorecimento invocar-se interesse público para o desrespeito destes planos municipais;

h) Se os territórios da Madeira e Porto Santo são espaços limitados, a Região Autónoma possui um imenso espaço marítimo, fonte de enormes recursos económicos, que é preciso potenciar. Por isso defendemos uma aposta efectiva na investigação dos recursos marinhos e de todas as potencialidades do mar.

i) O PS-Madeira entende que a Cultura nunca teve o lugar que merecia na orgânica e nas políticas do Governo Regional,que misturou Cultura com Turismo, num “coktail” de iniciativas “para inglês ver”, importada ou pretensamente etnográfica. Só o Governo saído das eleições antecipadas juntou Cultura a Educação, mas não acreditamos que essa inflexão altere a situação que se tem vivido nesta área, onde a qualidade dos projectos se tem vergado ao avassalador predomínio da ideologia totalitária do regime. As instituições culturais têm vivido numa subsidiodependência de migalhas do orçamento, em detrimento de produções pseudo-culturais idealizadas e organizadas pelo próprio poder regional. Grande parte das verbas do orçamento regional para a cultura beneficiou sobretudo os construtores civis, que ergueram grandes edifícios, alguns deles autênticos atentados a pequenas localidades, sem utilização efectiva, sem entidades que promovam um mínimo sinal de programação cultural. O PS-Madeira saberá incentivar a cultura da nossa terra, respeitando a grandeza dos projectos artísticos.

j) O PS-Madeira preocupa-se com o empobrecimento da classe média; com o acentuar das desigualdades sociais; com o desemprego crescente; com o endividamento das famílias e, por isso, entende que também no âmbito da fiscalidade deverão ser tomadas medidas que promovam o emprego, a solidariedade e a justiça social.

l) O PS-Madeira entende que o apoio ao Desporto significa o apoio à qualidade de vida dos nossos cidadãos, mas defende que o orçamento público deve ser destinado ao desporto amador, já que o desporto profissional deve ser entendido como uma indústria, a qual deve subsistir com os mecanismos próprios de qualquer actividade económica.

XIII Congresso do PS-Madeira

Partidos e comentaristas estranham que o novo líder do PS-Madeira tenha condenado algumas políticas do Governo da República no seu discurso de Sábado e depois o congresso tenha, no Domingo, aplaudido Augusto Santos Silva. Não compreendem naturalmente que o PS (no seu todo) é um partido livre, onde os seus militantes exercem o seu direito de opinião. Não compreendem (também é legítimo, cada qual compreende o que pode, de acordo com as suas capacidades e vontade) que o conceito de Autonomia do PS é distinto do do PSD que se foi disseminando pelas cabecinhas pensadoras. A Autonomia defendida pelo PS não é contra: nem contra o Continente, nem contra os restantes portugueses, nem contra a República, como certo órgão de como o DN do Calisto titulou. Não perceberam ainda que um partido de homens livres deve ser mais vigilante e mais crítico quando está no Poder?
O socialista Augusto Santos Silva foi aplaudido porque soube denunciar muito claramente o que pretendia Marques Mendes vindo ao Chão da Lagoa e porque, tal como a generalidade dos congressitas, denunciou a vertente anti-democrática do presidente do Governo Regional.
Augusto Santos Silva veio ao congresso como dirigente do PS e não como ministro, mas se, por acaso, tivesse vindo como membro do Governo da República teria sido aplaudido de igual modo.

Trauliteiros

Marques Mendes disse que o ministro Augusto Santos Silva era trauliteiro.
Vejam bem: ele tinha de um lado Alberto João Jardim e do outro Jaime Ramos, e disse que Augusto Santos Silva era trauliteiro.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

E todos engolem?

Primeiro, o Governo Regional da Madeira suspendeu a aplicação do diploma enquanto o Tribunal Constitucional não se pronunciar sobre ela (lei) (14/7);
depois o problema passou a ser, segundo AJJ, uma questão de moral:"Quem está na ilegalidade é este país [Portugal], que atenta contra a vida humana e que não respeita princípios essenciais", disse Alberto João Jardim ao ser confrontado pela comunicação social com acusações de vários quadrantes de que a Madeira estava na "ilegalidade" ao não aplicar a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). ... "Na minha formação política, primeiro estão os grandes princípios da defesa da pessoa humana e só depois está o positivismo da lei escrita", declarou hoje Alberto João Jardim. (16/7);
Finalmente, acossados pelas críticas regionais e nacionais de que o Governo Regional não poderia impedir a aplicação duma lei nacional, para os homens do PSD-Madeira o problema passou a ser financeiro: Em seguida, o deputado do PSD eleito pela Madeira Guilherme Silva respondeu às críticas da esquerda."Naturalmente que as leis da República são para ser observadas em todo o espaço nacional mas o Governo e a maioria têm de responder a duas questões", considerou Guilherme Silva.O deputado do PSD perguntou, em primeiro lugar, "porque não se lembrou o Governo de dotar as regiões autónomas dos meios financeiros necessários" quando a despenalização da IVG até às dez semanas foi aprovada em referendo. (18/7) - As datas são do tratamento jornalístico no DN.
Entretanto, todos viram, ouviram e leram a defesa inicial de que se os madeirenses tinham votado maioritariamente"não" à lei sobre a IVG, o Poder regional tinha legitimidade para não aplicar a lei à Região, como se eu, que não voto PSD, pudesse deixar de cumprir as leis que me são impostas pelos governos desse partido. Ou então, melhor, a verdade: a tendência separatista deita a cabeça de fora, depois faz zigue-zague, como sempre. O secretário regional da tutela já não sabe o que diz para desembrulhar a meada, procurando que as suas palavras sejam idênticas à do chefe, pois claro.
Marques Mendes, que se prepara para o passeio, finge que não se apercebe da deriva.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Nervos à flor da pele

Com o aproximar do Congresso do PS-M, aumenta a expectativa sobre o futuro do PS-M, porque toda a gente sabe que João Carlos Gouveia há-de imprimir um outro ritmo e outra política à oposição. Enervam-se os homens do Poder, dizendo que não será este o líder ideal e geralmente apontando quem melhor serviria, mais ou menos como se os socialistas começassem a dizer que o futuro líder do PSD-M deveria ser Virgílio Pereira. Depois nota-se a angústia dos socialistas do costume, não cansados ainda de trinta e tal anos de oposição raquítica. Restam os cidadãos sedentos de mudança, que aguardam com algum entusiasmo os tempos que se avizinham, e que já se habituaram a reconhecer a coragem e a determinação do novo líder do PS-M.

terça-feira, 24 de julho de 2007

O jardinismo é um salazarismo

Com a devida vénia, retiro do blog Esquerda Republicana:

Sexta-feira, Julho 20, 2007
O jardinismo é um salazarismo
Eu sempre achei que sim. No Portugal dos Pequeninos, implica-se isso mesmo:

«Gostava que fosse possível desenvolver um pensamento institucional neo-salazarista, sem complexos e sem os melros do costume. Quanto a partidos, os que existem, chegam e sobram, embora preferisse uma espécie de "UMP" portuguesa que substituisse toda a direita actualmente visível e sempre em bicos dos pés. (...) A rever-me nalguma coisa, só no PSD-Madeira que, infelizmente, não é transponível para este quadrado».

O que distingue Jardim dos seus antepassados ideológicos é estar condicionado por um regime democrático. Todavia, tem testado os limites e equilíbrios da democracia e do Estado de Direito muito para além do que se considera aceitável na Europa a oeste de Varsóvia. Em certas ocasiões, não se tem sequer coibido de intimidar adversários políticos.
Etiquetas: ,


Um artigo de Ricardo Alves

Manipular informação

Não assisti in loco ao debate desta manhã na Assembleia Legislativa da Madeira, e só falo do que ouvi na RDP, que apresentou uma discussão entre Edgar Silva e Jaime Ramos como um momento em que o debate se deu com "linguagem muito baixa". Seguidamente, o repórter deu as falas dos dois deputados. Edgar Silva, em linguagem corrente, sem abusos, sem indelicadeza, falou dos negócios de Jaime Ramos. Fez a sua leitura política da não existência de uma lei das incompatibilidades. Jaime Ramos acusou o seu interlocutor de ter roubado as igrejas e apelidou-o de "chulo". Só Jaime Ramos foi boçal e indecoroso, no entanto, mais uma vez, quem ouça inadvertidamente a informação colocará Jaime Ramos e Edgar Silva no mesmo saco. Como estratégia do PSD poderá ter a sua lógica, como informação paga pelo erário público, se não é incompetência significa a colagem à estratégia do PSD de encobrir a mediocridade intelectual do líder parlamentar da sua bancada, para além da falta de respeito por todos os que ousam ter opiniões divergentes.
Ah, este uso da informação é repetitivo e é sintoma do totalitarismo vigente.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Fernão Freitas e a Autonomia

"Quando alguém como Fernão Freitas, do PS Madeira, porventura o principal estudioso do estatuto autonómico, defende a tese de que a Madeira deveria ser um Estado federado, com o alargamento indefinido e incontrolado dos poderes regionais, confesso que fico absolutamente atónito. Porque, no fundo, isso quer dizer que mesmo entre a oposição madeirense (não sei se por pura demagogia, se por total irresponsabilidade, se por cobardia e receio de passarem por "traidores à Madeira") há quem se predisponha a fazer o jogo do jardinismo e não extrair nenhumas lições do passado e da perversão que tem vindo a corromper essa bela ideia de autonomia. Em qualquer caso, a tendência para fazer prevalecer a ideologia e a teoria sobre a realidade e sobre a prática, como me parece ser o caso de Fernão Freitas, mostra até que ponto existe ainda entre algumas pequenas elites regionais uma incapacidade de reflectir sobre a história da Madeira desde o 25 de Abril e tirar daí as necessárias conclusões."
Vicente Jorge Silva, in O Comércio do Funchal e a Autonomia, 2006

Fernão Freitas e o Mestrado em Autonomia

Fernão Freitas afirmou que agora pensava em tirar um Mestrado em Autonomia em Espanha. Destino lógico para quem nunca conseguiu ter da Autonomia uma visão distinta da do Poder regional. Como muitos no PSD, não distingue centralismo de colonialismo; como muitos no PSD, confunde as particularidades do nosso arquipélago com as reivindicações históricas de povos que possuem língua e cultura própria e que se opõem a Castela que os dominou há séculos.

Travessa da Infância

Quietos fazemos as grandes viagens
só a alma convive com as palavras
estranhas

lembro-me de uma janela
na Travessa da Infância
onde seguindo o rumor dos autocarros
olhei pela primeira vez
o mundo

não sei se poderás adivinhar
a secreta glória que senti
por esses dias

só mais tarde descobri que
o último apeadeiro de todos
os autocarros
era ainda antes
do mundo

mas isso foi
muito depois
repito

José Tolentino Mendonça in Os Dias Contados

sábado, 21 de julho de 2007

MADEIRA... madeirenses

Mais uma vez Alberto João Jardim utiliza a estratégia de identificar os madeirenses ou a Madeira consigo próprio ou com o seu partido. Apelida de doentia a posição do primeiro-ministro acerca da falta de democracia e de respeito pelo parlamento regional por parte do PSD-M, relacionando-a com posições de Sócrates em relação à Madeira. Como a maioria dos madeirenses (os que votam nos partidos da oposição mais os abstencionistas) não se revê na triste figura de AJJ, não se percebe como se pode confundir a Madeira com ele próprio, quando ele não passa de um só madeirense. Atacar as políticas do PSD-M não é atacar os madeirenses, de modo algum, tal como atacar as políticas de Sócrates não significa atacar os portugueses ou Portugal. Já o Estado Novo utilizava a mesma estratégia de identificar o poder à própria nação, enfim... tiques totalitários.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

AUTONOMIA III

A Autonomia defendida pelo PSD distingue-se da Autonomia proposta pelos homens livres. A do PSD tem a marca separatista na sua base, como tem sido evidente ao longo destes trinta e tal anos. A substituição da sigla FLAMA por FAMA não esconde a íntima relação entre as duas organizações, patente desde logo pela semelhança fónica: retirou-se o L da Libertação, como se ela tivesse sido conquistada, pelo menos no que aos mecanismos de poder diz respeito, ou, antes, substituiram-se as armas pela palavra. A bandeira azul e amarela lá está em todos os pendões, em todos os emblemas, nas cadeiras dos estádios, em tudo o que é sítio ou instituição. Aí estão os discursos contra os Portugueses, como se os madeirenses fossem outros que não eles mesmos portugueses, com a sua própria forma de ser, como os transmontanos se distinguem dos algarvios, pois claro. E ninguém finja que não percebe a razão pela qual se distribuiram bandeirinhas para se colocarem na casa de cada um, já que as habitações coloriam de verde e vermelho o espaço imaginário da nossa portugalidade.
A Autonomia do PSD distingue-se da dos homens livres por essa matriz inicial: contra a liberdade e a democracia instituída na pátria portuguesa, Por isso, os homens livres têm denunciado como o avanço da Autonomia do PSD tem correspondido a uma limitação das liberdades e da democracia na Madeira. Que alguns sejam pouco eficazes na denúncia desta situação, isso é outra conversa, como é outra conversa muita gente fingir que não percebe o que se passa, ou entenda tanto que convenha disfarçar, de mãos nos bolsos, assobiando.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O POETA

Comprei o último livro do Poeta, saído há quase um ano. Nas livrarias olhava-o, procurando coragem, sempre adiada, até ontem. O Poeta canta a ilha como ninguém, de longe canta uma ilha de infância, olhando-a como à mãe que, encostada aos muros do quintal, erguesse a mão para o húmido adeus. Aprendi a gostar do Poeta desde sempre e aos seus lugares, que vi com os seus e os meus olhos. Cultivei-o em todos os lados aonde os meus passos me levaram, até que o conheci em pessoa, ali de carne e osso, como um homem que conversa por entre os dedos. Regressava à ilha por esse último livro que criara. Falámos pela noite da poesia, da sua que partiu dos lugares do norte, onde morriam as crianças arrastadas pelas ribeiras. O Poeta entusiasmou-se e pediu-me que falasse da sua obra dias depois, no lançamento do seu novo livro, porque ele andava um pouco como o vento, arrastado por quem desses lugares do seu verbo pouco sabia. Alertei-o para a realidade das mãos que o abraçavam na sua visita, para as mãos que o seguravam como a um troféu curricular. O Poeta invocou a sua liberdade. Mas o Poeta esquecera-se que é homem, que envelhecera, que também ele procurava as honrarias que, ignorante, julgava que os seus não lhe dedicavam, como se a um poeta se devesse mais do que a leitura. E o Poeta esqueceu o que pedira, vencido pelas mãos que o abraçavam curricularmente.
Comprei o último livro do Poeta, porque os seus poemas também são meus em absoluto e, se ele me ouvisse agora, dir-lhe-ia:
- Calma, Poeta, ainda um dia terás o nome na porta da casa onde viveste.

O passado Duarte Caldeira

Para já, o critério da RDP é muito engraçado: pluralismo, pois então, na efeméride do primeiro parlamento regional, fala um antigo deputado socialista, que desse tempo, o dele, diz maravilhas, doze anos lá sentado em convívio democrático - na altura não dizia o mesmo. Mas o jornalismo é actuante, presente, prospectivo, e vão lá umas perguntinhas sobre o presente e o futuro do PS-Madeira. Então o homem que se arrependeu de ter voltado ao Parlamento para mais quatro anos (mas o arrependimente não o fez levantar o dito da cadeira, claro), lá disparou que agora é uma desgraça e o futuro há-de ser pior, que reina a "mediocricidade" (sic!!!). Que o PS se afunda sem gente como ele, que em 16 (!!) anos como grande parlamentar viu o seu partido afastar-se mais e mais do poder. O senhor que dizia que votaria no extraordinário e ecológico Partido da Terra (onde poisavam os seus amigos desinteressados) para castigar o PS, discursa agora com a mesma pureza de carácter dos seus parceiros de grupo Rita Pestana, Ismael Fernandes e João Isidoro. Ó tempo, volta para trás, não era?

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Clube de Jornalistas

Dediquei algum tempo ontem à noite a ver este programa da RTP-M, num formato importado, e confirmei o que já me tinha parecido nalgumas passagens rápidas noutras terças-feiras. O moderador, Roquelino Ornelas, é o que se sabe e não se espera mais, o Ricardo Oliveira dá-se poses de "enfant terrible" do jornalismo mas descamba para a chacota e pseudo-superioridade, os outros dois, Marsílio Aguiar e Jorge Pinto lá vão dizendo o que o poder gosta de ouvir, tudo certinho, sim senhor. A Sónia ainda mostra alguma preocupação em ser ela própria. Jornalistas, sim, não há nada a dizer, agora comentadores... faz favor!
Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarelada!
Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! e ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!
Ar livre! Corrente de ar
Por toda a casa empestada!
Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta bandalheira
De estufa calafetada!
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre como se tem
Fora do ventre da mãe,
Desligado do cordão!
Ar livre sem restrição!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!

Miguel Torga, in Cântico do Homem, 1950

terça-feira, 17 de julho de 2007

AUTONOMIA II

A Autonomia que o PSD-M defende, a tal Autonomia Total que de vez em quando salta do estômago até ao verbo, nasce da luta contra a democracia e a liberdade que a Revolução de Abril anunciava. Os defensores do centralismo e da ditadura lutaram pela independência da Madeira porque nada tinham a ver com os ideais democráticos. Poder próprio para lutar contra a liberdade e a democracia. Inventou-se então a ideia de madeirenses colonizados, como se fôssemos todos descendentes de cafres massacrados pelo português Gonçalves Zarco. Entrando no jogo pretensamente democrático, os separatistas mudaram de substantivo, adoptando o termo que os democratas madeirenses defenderam em 69, na Carta a um Governador- Autonomia, mas usando-o ora como arma chantagista para reivindicar meios financeiros, ora para encapotar os verdadeiros desígnios dos seus actuais proponentes.

AUMENTOS PARA FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

O PSD faz aprovar na Assembleia Legislativa da Madeira uma proposta de aumento para os membros da PSP, da GNR e da Polícia Judiciária, à conta dos custos da insularidade. Um aumento de 30%. O PS absteve-se, acho bem, porque todos os funcionários públicos são filhos do mesmo Deus. O PS defenderá já amanhã um aumento de 15% para todos os funcionários públicos.

AUTONOMIA

A Autonomia é conquista da Democracia e só pode singrar em liberdade. Na Madeira, antes do 25 de Abril, foram os democratas que corajosamente subscreveram em 1969, a Carta a um Governador, a defendê-la, pois "face às necessidades urgentes de desenvolvimento do Distrito e face às condições específicas do Distrito que determinam esse desenvolvimento, é urgente dar possibilidades à administração local de, com a cooperação dos órgãos especializados centrais, com recurso a técnicos nacionais ou estrangeiros, com o recurso livre a capitais nacionais ou estrangeiros, firmar as directrizes seguras que lhe permitam caminhar rapidamente para o desenvolvimento pleno de todas essas potencialidades"
Assinavam a carta donde extraímos uma pequena passagem democratas como António Loja, José Manuel Barroso, António Sales Caldeira, Marcelo Luís Costa, Rui Nepomuceno, Helena Marques, Artur Pestana Andrade, Vicente Jorge Silva, João da Cruz Nunes, António França Jardim, Henrique Sampaio, Gabriel Lino Cabral, Anjos Teixeira, António Monteiro de Aguiar, Maria Clarisse Canha, entre outos.
Do outro lado, junto do podercentralista, repressivo, anti-democrático e ditatorial estavam pessoas como Gabriel Drumond e Alberto João Jardim, que agora são, respectivamente, líder e sócio nº 1 da FAMA.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

João Carlos Gouveia

João Carlos Gouveia começa hoje a receber os votos dos militantes que o hão-de eleger já amanhã líder do PS-M, em eleição directa. Dizer da minha extrema satisfação e esperança é pouco para quem me conhece e sabe como tenho acompanhado de perto as suas lutas pela liberdade e pela democracia na Madeira, que passam obrigatoriamente pela transformação do PS-M. Há quem já o apelidasse de eterno derrotado, como se assim se pudesse catalogar quem partiu, com o NOVO PS, de um resultado de 13% na primeira candidatura interna, para quarenta e tal (sempre muitíssimo próximo da vitória) nos dois congressos seguintes. Apesar das referidas derrotas para a presidência do Partido, conseguiu algumas alterações aos estatutos do PS-M, como as eleições directas para a presidência (estas mesmas que agora lhe proporcionam a vitória) e o fim das inerências para o Congresso e órgãos internos. Estas duas conquistas no campo da organização partidária faziam parte de um conjunto de quatro propostas que acompanham o seu trajecto político deste a primeira hora. Ainda não conseguiu que o partido aceitasse a limitação de mandatos para todos os cargos de direcção, não só no plano dos órgãos de poder do Estado, como também no estrito plano dos órgãos partidários. Falta também que o partido aceite as eleições primárias internas para as listas às autarquias e aos parlamentos. Dos que se costumam tecer considerações sobre a sua personalidade política, ninguém ainda reconheceu que João Carlos Gouveia foi o primeiro político em Portugal a apresentar qualquer uma destas quatro ideias de organização partidária. Por outro lado, tem sido um verdadeiro opositor deste regime, traçando um quadro da sua implementação e estratégias de perpetuação. Tem denunciado como a Autonomia defendida pelo PSD-M tem desígnios separatistas, desde a sua origem.
A minha satisfação tem como principal fundamento o facto de que João Carlos Gouveia possui a leitura da situação regional com a qual me identifico absolutamente e tem a coragem de se assumir como opositor ao regime, e não como mero membro da oposição, mesmo que isso lhe venha criando imensos dissabores. A sua coragem é quase única, sem vacilações.
A minha esperança é que consiga, pela dinâmica que é capaz de criar, impedir que os do costume , os sem-ideais, mais interessados na manutenção dos seus pequenos lugares, sabotem a sua liderança.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

TOTALITARISMO

O totalitarismo corresponde ao exercício do poder, a um regime, onde se procura submeter a generalidade das pessoas a um sistema ideológico. As ideias são repetidas exaustivamente e veiculadas por uma comunicação social dominada pelo poder, ou porque é propriedade do regime totalitário, ou porque a ele se submete como estratégia de acesso às partículas de privilégio e segurança.
Disseminada a ideia, tornada senso comum, os seus críticos são olhados como extravagantes ou perigosos insurrectos, tornados alvos fáceis de qualquer apedrejamento público.

terça-feira, 10 de julho de 2007

De longe, mesmo que seja, a tua boca beija
nomes rasurados.
Sobre esta ilha nada sei dizer
apenas que adiamos esta renúncia
de aqui estar vencidos e obtusos;
se houver um caminho a percorrer
lá estamos a sonhar liberdades
que nunca desfrutámos:
o amor não é tudo quando
nos fecham a boca com armas
e a verdade aparece disfarçada nos gestos desencontrados.

A.J.Vieira de Freitas, in Habitar o Tempo